Ser humano é sofrer. Ninguém consegue isenção.
O sofrimento nos enche de dor e dúvida.
Não há emoção que seja mais espontânea e individualizada que o sofrimento.
Neste texto quero pontuar breves reflexões que estou tendo sobre esse momento que estamos vivendo, e recorri a leitura de um livro chamado Lamentações que na forma de um poema acróstico (cada versículo se inicia com uma letra do alfabeto hebraico) relata o sofrimento que o povo de Israel viveu enquanto estava no exílio.
A experiência do sofrimento desenvolve o sentido de relevância.
Se outras pessoas choram comigo, é porque deve haver mais no sofrimento que o meu próprio sentimento de perda. Quando pessoas se juntam ao sofredor, há uma “validação consensual” segundo a qual o sofrimento significa algo. A comunidade decide com suas lágrimas que o sofrimento é digno de choro.
Mas, quando a comunidade não dá ouvidos a algo — quando não há uma alma à minha volta que se preocupe comigo —, então o sofrimento é anulado.
Na psicanálise entende-se que essa anulação pode desencadear em uma repressão. Que por sua vez poderá ser respondida ao nosso corpo com a somatização, também conhecida como doenças psicossomáticas. Essas doenças são desordens emocionais ou psiquiátricas que afetam também o funcionamento dos órgãos do nosso corpo. Enxaqueca, dores no corpo e alergias são um dos exemplos.
Cuidado com as técnicas para aliviar o sofrimento.
O sofrimento é um estado que estamos particularmente vulneráveis. Tratar o sofrimento como um problema é diminuir a pessoa. O fato de que Lamentações não oferece meios para um encantamento ou fórmulas mágicas para garantir a proteção contra os efeitos da ira divina — prática comum nas civilizações vizinhas de Israel — serve de advertência contra a aquisição de “técnicas” para aliviar o sofrimento.
O livro de Lamentações não é um plano que nos ensina a administrar a dor.
Nada diminui mais a pessoa que sofre do que procurar minimizar sua dor. E nada pode dar mais sentido ao sofrimento que o levar a sério, oferecendo à pessoa que sofre nossa companhia e até mesmo a indicando buscar terapia e grupos de apoio.
Peça ajuda.
Colocarei nessa reflexão fragmentos do livro de Lamentações.
“Eu desisti da vida.
Esqueci o que é uma vida boa.
Lembro-me de tudo — ah, e como lembro!
o sentimento de chegar ao fundo do poço.
Quando a vida está difícil de suportar,
entregue-se à solidão. Recolha-se ao silêncio.
Curve-se em oração. Não faça perguntas.
Espere até que surja a esperança.
Não fuja das provocações: encare-as.
O pior nunca é pior.
O Eterno se mostra bom para aquele que espera nele.
Ele não tem prazer em tornar a vida difícil,
em espalhar pedras pelo caminho.
O Eterno nós da um novo começo.”
Não busque a negação da realidade e não se entregue ao pavor.
Vimos que a negação da realidade e a anulação do sofrimento causam males como a somatização em você e em pessoas ao seu redor.
Por outro lado, o alarmismo e o pavor também nos leva ao caminho de instabilidade que fazem retroalimentar a ansiedade e o caos interno, que inevitavelmente nós gera doenças psicossomáticas, e porque não dizer também danos espirituais.
Por isso, peça ajuda. Não é mimimi.