Explicando o por quê é gostoso compartilhar fake news. E como isso dá ruim.

Aquela agradável sensação de pertencimento.

A princípio não darei a definição do que é fake news, mas sim apontar razões do por quê temos prazer em ler e divulgar notícias que confirmam aquilo que já acreditamos. E algumas consequências disso.

Uma vez vi a seguinte charge: um pai está sentado lendo uma notícia, e sua filha diz para ele que o que ele compartilhou é uma fake news.

E este pai assustado questiona: Como pode ser fake new se está dizendo a mesma coisa que eu penso?

Ler uma noticia, ou um artigo que confirma com palavras mais sofisticadas o que nós já diziamos da uma sensação agradável de que estou do lado certo e da verdade.

Melhor ainda se ao compartilhar esta noticia, recebo likes e comentários reafirmando essa minha linha de pensamento entre meus pares. Somos reconhecidos como alguém relevante.

Nesta hora vivemos o senso de pertencimento. Não sou supostamente um alienado ou inútil na sociedade. Alias, quero mais, vou amplificar minha voz, já que sou sábio e tenho liberdade para me expressar.

Ninguém rouba minha liberdade de expressão.

Na semana em que escrevo esse texto, o mundo coloca em pauta a questão: Fake News ou Liberdade de Expressão.

Nos Estados Unidos, Donald Trump teve um embate com o Twitter, já que teve um de seus tuítes categorizado como fake news pela própria plataforma.

No Brasil, foi a vez de blogueiros alinhados com o governo Bolsonaro terem seus notebooks e celulares apreendidos pela polícia federal em operação que investiga redes orquestradas que supostamente desinformam e confundem a opinião popular.

Paralelamente a isso, Christopher Bouzy, criador de um perfil chamado @botsentinel tem recentemente feito barulho por denunciar perfis e hashtags que são impulsionadas por contas inautênticas.

Perfil @botsentinel denunciando contas inautênticas que estariam subindo a hashtag Bolsonaro Reeleito. Pra que? E quem financia isso?

Mas vamos lá, e se não for fake news, mas sim um ato de liberdade de expressão para apresentar um determinado ponto de vista sobre uma situação ou evento, assim como afirmam os acusados?

Liberdade de expressão é um bichinho complicado. Veja os seguinte exemplos:

Na Europa, você pode ser preso até por negar certos fatos históricos como o Holocausto. Até que ponto é permitido fazer uma releitura histórica? Por lá está linha está definida.

O que não está bem claro no velho continente, é como categorizar quem e o que pode cair na chamada lei do esquecimento. Em linha gerais, essa lei da o direito de uma pessoa pedir para retirar algum conteúdo que a ofenda. Mas isso não daria margem para surgirem problemas de censura?

Nos EUA, a liberdade de expressão é levada a um grau maior. Por lá, é lícito empunhar suásticas, queimar bandeiras e dizer quase tudo, desde que não se coloque em risco iminente a integridade física ou patrimônio de outras pessoas. No entanto, a Amazon sofreu pressão de setores da sociedade para retirar produtos que carregavam o símbolo nazista.

E no Brasil, existe o direito de até pedir o AI-5 ou o fechamento do Congresso e do STF. A liberdade para se manifestar a respeito disso, por mais contraditória que possa parecer, está assegurada.

O discurso para criarem agencias reguladoras ou de checagem de informação surgem nessas horas, mas vem na sequência a pergunta: quem checa os checadores?

Enquanto refletimos essa linha tênue entre censura e liberdade para divulgar qualquer coisa. Assistimos pessoas morrerem por causa de fake news.

A menina que teve a mãe morta por divulgação de fake news.

Não é exagero, uma menina de 12 anos, residente da cidade de Guarujá, litoral de São Paulo, perdeu a mãe, por ter sido linchada.

A história é a seguinte: uma mãe teve sua foto publicada em um grupo do Facebook alegando que ela realizava magia negra, e dias depois foi linchada. Detalhe, ela nunca se envolveu com magia negra, e ainda se fosse verdade é bizarro. Como em pleno século 21 isso ainda é possível?

Estaria uma parte da sociedade doente psicologicamente e ou espiritualmente? Ou isso são apenas consequência de vivermos em tempos de pós-verdade?

Pós-verdade: agora já era, é cada cabeça uma sentença.

A definição de pós-verdade direto do Wikipedia é: na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais.

Charge de Martin Shovel.

Lembra quando ouviamos que “conhecimento é poder”? Pois bem, Noah Yuval Harari atualizou essa máxima para “clareza é poder“.

Temos que aprender a filtrar, conferir as fontes, usar melhor o Google, e buscar ter um toque de ceticismo, bom senso e moderação ao lermos uma informação. Ainda mais se for por meio de uma manchete alarmista.

Outra questão é a de ter a percepção de que não existem santos nessa historia. Explico.

Sim, há blogueiros que divulgam desinformações enviesadas. Mas não podemos ignorar que há interesses comerciais sendo ameaçados pelas grandes e velhas mídias que tem sido afetadas com o advento das novas mídias. Vendo sua audiência e influência cairem.

Ainda sim, acredito que informação paga, geralmente é mais confiável do que aquela que se apresenta de forma gratuita. Mas note, nem sempre.

As consequências dessa combinação, fake news, liberdade de expressão e interesses comerciais apareceram recentemente no desenho South Park onde eles criticavam a Disney e a NBA por sujeitarem seus conteúdos a censura chinesa, por questões financeiras.

Mickey usando a camiseta I Love Xi Jinping, ditador chinês.

Não sejamos ingênuos, Fake News não é novidade.

A guerra de narrativas sempre aconteceu ao longo ao história, porém com advento da internet houve uma potencialização maior dessa disputa que por vezes carrega inverdades e fatos convenientemente distorcidos.

Será que Raul Seixas estava certo quando disse:

Eu não preciso ler jornais
Mentir sozinho eu sou capaz
Não quero ir de encontro ao azar”

Essa história de divulgar desinformação, calunia e difamação é tão antiga, que até esquecemos que Jesus foi morto, por ter supostamente alegado falsas informações ao seu respeito.

Eita povo que sempre gostou de uma calúnia e linchamento.

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